Volta e meia a IELB tem sido desafiada à dar explicações sobre sua pratica de comunhão restrita. É a prática que restringe a Santa Ceia aos membros luteranos. Por esta prática a IELB já foi acusada de ser uma igreja fechada e radical e de ser incompreensível para com os não-luteranos. Tem sido afirmado que ela deveria ser mais aberta para, através da Santa Ceia, trazer mais pessoas para o seu meio. O que deve nortear a nossa prática de comunhão? Quem pode participar dela?
Antes de tudo é preciso compreender que a santa Ceia, bem como o culto todo, não tem a finalidade primeira de ser evangelística. É verdade que toda a vida do cristão quer ser um testemunho da fé em Jesus. Sob este prisma, o culto também é. Mas acima disso, o culto tem a finalidade de receber os fiéis para fortalecê-los na fé, através da palavra e sacramentos e renova-los no perdão, no amor e na graça de Deus e na decisão de servir ao Senhor com alegria. A evangelização é decorrente do culto e não exatamente direcionada ao culto. É a partir do culto que os filhos de Deus manifestam a sua confissão de fé e o seu ensino cristão ao mundo. Como exemplo, podemos dizer que quando nos sentamos à mesa para fazer uma refeição, não estamos ali realizando o trabalho do dia-a-dia, mas sendo fortalecidos para o trabalho que vem a seguir. A Santa Ceia tem a finalidade de fortalecer os fiéis no amor de Deus, e que, firmados neste amor, dêem testemunho da verdade.
Depois é preciso lembrar que a Santa Ceia não foi dada para gerar a fé. Para isso foram dados o evangelho e o batismo. A Santa Ceia visa fortalecer a fé que já existe. O evangelho pode ser pregado sem que haja fé. O mesmo não acontece com a Santa Ceia. Para alguém poder recebê-la é necessário a verdadeira fé em Jesus Cristo. Ela poderia, então, ser dada a qualquer pessoa que se diz crer em Jesus? Não. Aí precisamos compreender outro aspecto.
A Santa Ceia tem o sentido corporativo tanto de forma horizontal como de forma vertical. No sentido horizontal significa que quando vamos à santa ceia, estamos comungando com os irmãos na fé. Podemos chamar isso de “vestir a mesma camisa”. Isso significa que temos a mesma fé e confissão, estamos em paz com eles e que não há nada que nos separa deles. No contexto da IELB, a Santa Ceia sempre teve um forte caráter confessional. Firmada nas palavras do próprio Senhor: “isto é o meu corpo, isto é o meu sangre”, a IELB sempre creu na presença real de Cristo na Santa Ceia. A IELB também ensina que a Santa Ceia é um instrumento da graça de Deus. Em muitas outras igrejas, ensina-se que ela é um mero símbolo da presença de Deus ou que Cristo está apenas espiritualmente presente. Ao admitirmos outros a Santa Ceia ou ao comungarmos em outra igreja, estamos misturando nossas convicções e até concordando com doutrinas contrárias ao que a Bíblia ensina. Como não é possível ter, ao mesmo tempo, duas ou mais confissões diferentes; não é possível comungar em igrejas de confissões diferentes. Assim, na Santa Ceia o “vestir a mesma camisa” tem o seu lugar mais apropriado.
Depois ela tem o sentido vertical. Ao participarmos da Santa Ceia, estamos corporativamente unidos com Deus e reconciliados com ele. Isso significa estar debaixo da ordem, Palavra e obra dele. Como Deus veste uma camisa só, que é a sua Palavra, não é possível comungar com aqueles que tem uma confissão diferente do que ensina a Palavra. A Santa Ceia é o melhor lugar para reafirmarmos aquilo que cremos e confessamos a partir da Palavra.
Ao admitimos somente membros da IELB na Santa Ceia, não estamos dizendo que apenas luteranos sejam cristãos. Em muitas igrejas, prega-se a palavra de Deus de forma suficiente para que pessoas possam chegar à fé em Cristo. Assim, pela fé em Cristo são nossos irmãos. Mas é preciso lembrar que Santa Ceia requer unidade de doutrina e confissão.
Por fim a Santa Ceia tem restrição também para os de dentro. Não quer dizer que todo comungante luterano, só porque é luterano, seja digno da Ceia do Senhor. Um luterano que não está arrependido dos seus pecados e não tem a menor compreensão de Santa Ceia, deveria primeiro corrigir a sua vida e ser instruído na fé. Esta é uma responsabilidade do pastor, que deve estar ciente do estado espiritual do comungante.
Pastor David Karnopp