Anualmente, no dia 10 de novembro, acontece um culto ecumênico na cidade alemã de Lübeck, que reúne católicos e luteranos. Nele recordam-se os quatro mártires da cidade: Karl Friedrich Stellbrink, Eduard Müller, Johannes Prassek e Hermann Lange. O primeiro foi pastor; os demais, capelães. Stellbrink foi pastor em duas paróquias da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB): Arroio do Padre e Monte Alverne (RS). Era descrito como nacionalista.
Nascido em 28 de outubro de 1894, em Münster (Westfália), Stellbrink ingressou no Seminário Teológico de Soest em 1913, que formava pastores para o Brasil. Após servir na guerra, os estudos foram retomados e ele veio ao Brasil em 1921. Aqui teve quatro crianças, uma delas – Gisela – sepultada em Arroio do Padre. Na Alemanha, adotou outras crianças.
Quando os nazistas começaram a se fazer ouvir, a família Stellbrink retornou à Alemanha, convicta de que participaria de uma nova era. Karl filiou-se ao Partido Nazista, mas logo percebeu o que acontecia. Opôs-se e foi expulso do partido, preso e executado.
Na casa dos Stellbrink havia uma piedade exemplar, música e muita leitura. A palavra “liberdade” tinha um grande significado, o que o levara a uma profunda amizade com um judeu.
Primeiro, ele foi citado perante um tribunal do partido nazista. Depois, entrou em choque com seu bispo, figura importante na hierarquia partidária. Retirou seus filhos do movimento jovem do partido porque as reuniões eram no horário dos cultos. Também não tardou a fazer críticas ao regime, mesmo depois de ter sido advertido três vezes pela Gestapo (polícia secreta).
Em conversas, manifestou que seria mais oportuno um fim rápido do regime do que a vitória na guerra. Irrequieto, não sabia ser cuidadoso. Aconselhava-se também com seus colegas católicos da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lübeck. Em parceria com eles, acolhia opositores do regime.
No Domingo de Ramos de 1942, na prédica do culto de confirmação, referiu-se ao bombardeio dos aliados sobre Lübeck, na noite anterior, como um castigo de Deus e um juízo sobre o regime nazista. Na Sexta-Feira Santa, a Gestapo foi à sua casa. Só não o levou porque estava acamado, com febre alta.
Apresentou-se depois e foi encarcerado. Não denunciou ninguém durante o interrogatório. Na mesma época, seus colegas católicos e membros das duas congregações foram presos. Aos luteranos foi oferecida liberdade em troca do testemunho contra o pastor, mas ninguém o fez. Stellbrink e os três colegas católicos foram julgados entre 23 e 25 de junho de 1943 e condenados à morte. Foram mortos na guilhotina, em 10 de novembro de 1943, no dia dos 460 anos de nascimento de Lutero.
Em uma de suas últimas cartas à família, Stellbrink escreveu: “Nada de ficar ensimesmado – Crer!... Para quem o tempo é como eternidade e eternidade como o tempo, esse está liberto de todo sofrimento... Ó bela eternidade, faze com que meu coração se acostume a ti; minha morada não se encontra aqui. Na verdade, ninguém pode determinar os limites de sua vida. Louvado, porém, seja Deus, por nossa vida poder estar em suas mãos... Em tuas mãos está meu tempo; permite que encontre misericórdia ante teu trono. Como deve ser bonito quando os portões da eternidade se abrem... Deus ajudou-me até aqui, porque as orações de vocês me suportaram. Que comunidade não haveríamos de ser caso voltássemos a nos reunir! Tenham, porém, a certeza: Isso vai acontecer, com toda a certeza, na eternidade. E isso é o que verdadeiramente importa! Por isso: alegrem-se e não se preocupem!”.
Fonte: Revista Novo Olhar, março e abril de 2007.
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