Apesar do nome, município do sul do Estado não tem padre, apenas pastor luterano.
Alguém conhece o padre? A pergunta feita a um grupo de adolescentes de 15 anos, moradoras de Arroio do Padre, no sul do Estado, ficou sem resposta. Elas nunca viram um sacerdote da igreja católica na vida.
Apesar do nome, é um município sem padre. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que dos 2,7 mil habitantes do município, distante 265 quilômetros da Capital, tem apenas 7,8% de católicos. É o menor índice do país.
A explicação estaria na origem dos moradores, a maioria descendente de imigrantes da Pomerânia e Alemanha. São os devotos da religião luterana, que, pelos cálculos do IBGE, somam 85,8% de evangélicos — índice que faz de Arroio do Padre um município de extremos, tem ao mesmo tempo a menor proporção de católicos e a maior de evangélicos de todo o Brasil. São cinco pastores para atender 12 comunidades do centro e da zona rural.
— O nosso município deveria se chamar Córrego do Pastor, porque não temos o padre nem mais o arroio, só um filete de água — brinca o prefeito, Jaime Starke, que assim como todos os antigos gestores e atuais vereadores de Arroio do Padre seguem a religião luterana.
Entre o padre e o pastor há uma diferença gritante (além da doutrina de cada religião): o pastor pode casar e ter filhos. Quando soube da transferência para o município do sul do Estado, o pastor Fabricio Weiss, que é de Santa Catarina, achou um tanto estranho uma cidade tipicamente luterana ter nome de padre. De lá para cá já se passaram sete anos, mas a dúvida permanece.
— Já perguntei muitas vezes por que padre se aqui não existe um. Tem gente daqui que tem 90 anos e nunca viu um padre na vida — diz o pastor.
Nem os mais velhos, nem os mais jovens conhecem um padre. No grupo das amigas Alice Beduhn, Andressa Ratzmann e Taís Redmer, todas com 15 anos, só Gabriela Griep já viu um padre antes. E isso porque foi convidada para um casamento na cidade vizinha Pelotas.
Além da presença do sacerdote, ela estranhou a missa dos católicos, que se ajoelham em determinados momentos e inclui a adoração a imagens de santos — o que não ocorre na luterana.
Em Arroio do Padre existe uma única igreja católica, que fica nove quilômetros distante da sede do município, e um salão paroquial, e cerca de cem membros. É realizada apenas uma missa por mês, sempre nos segundos sábados, e o padre vem de Turuçu, uma cidade próxima. Quem são os católicos?
— Negros e brasileiros. As pessoas que não são de origem pomerana nem alemã — conclui o coordenador da igreja, Darlan Fouchy, descendente de imigrantes franceses que nasceu no mesmo ano de fundação da igreja católica de Arroio do Padre.
Origem do nome
— Arroio do Padre teria esse nome em razão de as terras terem pertencido a um padre, no século 19;
— O padre seria na verdade um pastor luterano, que costumava se banhar em um arroio da cidade no século 19;
— Em um dia de temporal, o arroio transbordou. O padre, que na verdade era um pastor luterano, por descuido teria caído na água e morrido afogado.
Fonte: Secretária de Educação e Cultura do município, Denise Agner, descendente de pomeranos e casada com um dos pastores de Arroio do Padre
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